segunda-feira, 2 de junho de 2014

CONTEMPLAÇÕES






















CONTEMPLAÇÕES




Céu claro, quase límpido azul.

Ao longe, avista-se apenas
o bailar de aves de rapina
voando em círculos.

Algumas nuvens criam
suas costumeiras formas exóticas,
bizarras, umas devorando outras,
insanas, vorazmente.

Os ventos uivam e se agitam,
suspendendo e deslocando
sombras e objetos do solo.

As aves já se foram
ou pousaram para se alimentar.

Silêncio...



(Robério Matos)

sábado, 31 de maio de 2014

ENTÃO SURGIU UM SUSSURRO






















ENTÃO SURGIU UM SUSSURRO



que lhe sussurrava sem cessar
e a cabeça barulhava
e sofria com aquela dor
que além de tudo falava e por gozo
lhe atormentava e o fazia gemer.

Que lhe ordenava coisas
que não compreendia, e só sabia
que era para cumprir e obedecer.

E surgiu outro sussurro
ordenando-lhe redigir, escrever
sobre qualquer coisa que gostasse
desde que não se vinculasse
ao sussurro anterior
e se não o faria sucumbir,
morrer de intensa dor.

E escreveu por todos os dias
de sua atormentada vida
sem parar, respirar, ao menos entender
porque isso lhe sucedia.

Até que por fim e para alivio seu
(ou meu), morreu e se inscreveu
na galeria dos escritores imortais,
mesmo de outras eras,
que partiram sem deixar escrito algum,
e por isso mandou que escrevesse
ou ao menos que falasse em seu lugar...




(Robério Matos)


EU SOU NORMAL!







(coisa de louco…)



  

… E por isso navego ao centro da direita do caminho da normose da sociedade; da obviedade, para por essa não ser rotulado de ± louco. Tenho essa patologia, pois
normose é a definição da pessoa que está sofrendo de ser normal.

Às vezes preciso trafegar nos trilhos que há sob (sob, mesmo. Não, sobre) os tetos dessas construções edificadas com a rigidez dos seres normais como eu.

Noutras, prefiro romper o hímen das sapienciais delimitações dos percursores contemporâneos que legislaram o novo e atual padrão comportamental e caminhar sobre (agora, sobre. Não sob) o meio-fio desses paradigmas, e assim infringi-los.

Não me desvio das normas atuais, pois se nos foram impostas seria para nos arremeter de volta ao passado das tradições culturais de nossos avós, onde corretos eram os passos de seus ascendentes e por sua vez descendentes da era salomônica. Quando muito, inclino-me para o centro da esquerda dessa normosidade, transgredindo-a.

Não posso, por conseguinte, optar por minhas próprias e espontâneas intuições sob pena de ser conceituado como alguém anormal e, como tal, ser excluído dessa mesma sociedade constituinte dos novos preceitos comportamentais.

Igualmente, não devo / tenho o direito de pensar e agir na contramão do fluxo das coisas normais e salutares ao nosso crescimento, seja no campo cultural ou mesmo social do novo rumo das coisas…

Sou assim, e pronto!
(e não dormi)

Boa noite!
Aliás, bom dia!
É que acordei há pouco (ora, quem já viu alguém que não dormiu, acordar?).




(Robério Matos)




CRIANÇA OUTRA VEZ





















CRIANÇA OUTRA VEZ



Ladrilhos de ouro e diamantes
pavimentavam sua estrada
e os raios de sol esbraseados
faziam refletir faíscas de luzes azuis
que não se podia fitar diretamente –
seus olhos poderiam cegar.

E para cada um dia que avançava,
três faziam-nos recuar no passado
rejuvenescendo-o incessantemente
até que um dia, surpreso e feliz,
tornara-se novamente um jovem
ágil, robusto, cheio de vida.

Se continuasse a seguir por aquela
estrada encantada cedo ou mais tarde
trombaria com uma bela criança
na qual se converteria mais uma vez...




(Robério Matos)


terça-feira, 20 de maio de 2014

A BELEZA






















A BELEZA




não está nas coisas
que os olhos veem
ou que o sentido
a direciona e indica.

Ela é algo mais nobre
sutil, quase divino e
está ancorada
nos preceitos incipientes.
No âmago do “self”.

Beleza, é valorizar o feio
que deu certo,
nunca o belo incerto...

É tudo que se vê
com os olhos d’alma.
Poucos a enxergam
ante a própria feiura.
(Sua. Não a dela)


(Robério Matos)


A GENTE SE ACOSTUMA






















A GENTE SE ACOSTUMA



A ganhar e depois perder
a deliciar-se com a beleza do dia
e ao anoitecer sentir nostalgia
supondo que novo dia não irá acontecer
que viver é assim mesmo
pouco sorrir e muito sofrer
às vezes ganhar e na maioria
ver tudo escorregar entre os dedos
sucumbir, sumir, ir-se e morrer.

Que tudo faz parte
que chega, conquista e depois parte
muitas vezes sem nada falar ou dizer
e tão distante tudo fica
menos a dor que continua a doer.

A gente se acostuma e até compactua
achando ser essa a nossa sina
que não poderia conosco ser diferente
pois nascemos para assim viver
um dia atrás do outro,
tantos que nos perdemos
e não mais sabemos que dia é hoje
ou se hoje não é hoje mas outro dia.

E não mais vivemos o que somos
apenas sonhamos outro viver
e de tanto sonhar nunca acordamos;
de tanto nos acostumar renunciamos
segurar a corda que nos oferece socorro
e assim nos afundamos no charco
que teima em engolir nossas entranhas
e as regurgitar perto de um abutre
faminto que agora tem o que comer.

A gente se acostuma e deixa de perceber
que amanhã é outro dia e
novo amor poderá surgir, acontecer.


(Robério Matos)


domingo, 18 de maio de 2014
























A ROSA A BRISA E O ESPINHO






Um dia, bela e exuberante
era regada com água da fonte
e muitas flores se curvavam
ante sua impar beleza.

Até o girassol mudou o foco
do sol para ela e passou
a crescer e girar em torno dela
(Hoje, murcha sem mesmo fitá-la).

Então a brisa um dia enxergou
que por trás dela havia um
traiçoeiro e pontiagudo espinho
e agora dá voltas para não
cruzar seu peçonhento jardim.



 (Robério Matos)






















A COPA DO MUNDO TALVEZ SEJA NOSSA




De milhões de brasileiros esperançosos
de torcedores fanáticos e autoconfiantes
de muita gente que sonha e carece sorrir.

De quantos contam os dias que faltam
maioria otimista e tomada de certezas
sem lugar para dúvidas e nada de surpresas.

A Copa do mundo talvez seja realmente nossa.
(UMA DÚVIDA).
Como nossa é a fome e os medos de milhões
que igualmente esperam mal acomodados
nas filas, nas macas e nos chãos dos hospitais
sem leitos, médicos, higiene, equipamentos...

Com transportes coletivos insuficientes
inadequados, não revisados e superlotados
trafegando em vias urbanas deterioradas
e em um trânsito tresloucados e sem orientação
onde os poucos guardas ficam espremidos
por trás dos postes de luz, não para orientar
mas para multar e só engordar a arrecadação.

Sem escolas ou com essas mal equipadas.
Com professores mal remunerados,
com a migalha dos salários atrasados e
igualmente mal qualificados e treinados
apenas para não revidar os insultos
e as humilhações de alunos privilegiados.

A Copa do mundo talvez seja realmente nossa.
Só não é nosso os milhões que já se foram,
hoje desviados para dentro das cuecas e meias
de alguns, ante o superfaturamento de suas obras
palacianas, enquanto moramos e morremos
em palafitas, favelas ou debaixo dos viadutos.
(UMA CERTEZA).




(Robério Matos)


quarta-feira, 14 de maio de 2014

















DE QUE COR É A EMOÇÃO



Qual o peso de um pingo d’água
Pode-se parti-lo ao meio?

Viajar por todas as galáxias
Fazendo breves paradas
Em uma estrela, aqui e acolá?

Depois dessa peripécia toda
Você acertaria o caminho de volta
À terra ou ao lugar d’onde partiu?


Você sabe onde tudo começou
Estava lá quando o ovo se partiu?

Então me diz qual a cor da emoção!
Da minha. A tua você deve saber
Se é que tem sentimentos...



(Robério Matos) 


















COISAS...


É só isso o que a vida é:
coisas que vêm, que vão

que não ficam
e até que ficam
as tristes, sombrias

as boas já se foram
pra bem longe
das que ficaram órfãs,
perdidas e
essas não podem seguir...



(Robério Matos)

sábado, 15 de março de 2014

A VIDA É UM APERITIVO

















A VIDA É UM APERITIVO



Ralo, curto, mas intenso
que antecede o prato principal
que não é o vivenciar
mas o vivificar o espírito
para o seu momento seguinte
não efêmero, mas duradouro
eterno como o melhor viver.

Às vezes é amarga, dura
noutras, doce e suave
como o melhor dos vinhos
o mais saboroso dos prazeres
o mais longo dos melhores dias
a mais demorada das viagens
abarrotadas de gozo e alegrias.

Não tem vencimento no rótulo
então deve ser degustada
pausada, serena e demoradamente
saboreando-se cada uma fatia
como a mais suculenta sobremesa
tal o melhor colóquio que antecede
o encontro, o roçar dos sexos
sem pressa, cadenciado. Só gemidos
sussurros, carícias e muita ousadia.

A vida deve ser assim sem ansiedade
sem dar ouvidos ao amanhã
sem censuras por causa do ontem
por isso deve ser vivificada
diuturna e intensamente como
o apagar velas do bolo de aniversário
sabendo-se que novamente acenderão
e uma vez mais será apreciada
amada, tocada, sentida...



(Robério Matos)


quinta-feira, 13 de março de 2014

MEU MODO TORTO DE VIVER




















MEU MODO TORTO DE VIVER



Não pude sair do lugar. Chovia.
Se fosse, me molharia todo
e aquela era minha única roupa.
Se ficasse, não conheceria o que havia
do outra lado, sob aquela chuva.
Não saberia o que há quando não
se quer sair sem se molhar...

Inda que ensopado d’água
e amarrotando minhas vestes
aquela poderia ser a única chance
de conhecer o meu lado obscuro
e para isso bastava sair do meu abrigo,
então dei o passo que mudou
para sempre o sentido de minha vida.

Se não estivesse a chover eu caminharia
a passos largos e não veria o que
acabara de conhecer: o lado
errado do meu modo torto de viver.


(Robério Matos)


quinta-feira, 6 de março de 2014

BABY, EU IREI TE ENCONTRAR



















BABY, EU IREI TE ENCONTRAR



Espera baby, eu irei te encontrar
talvez precise volta no mundo dar
ou quiçá te achar bem aqui
naquele lado, no banco daquela esquina
onde um dia te conheci, bela, divina
e se assim quiser minha sina,
não demorarei a em ti esbarrar.

Espera baby, prometo, não vai demorar
levarei flores vermelhas embrulhadas
em papel rosa floral aromático
e a ti entregarei esse ramalhete
após sussurrar-te palavras de amor
beijar-te suavemente e depois com furor.

Não precisou sequer nos jornais anunciar
achei-te aqui no lado esquerdo do peito
foi meu coração que te denunciou
de tanto fibrilar e descompassado palpitar
acusou a tua presença e logo passou
a te acomodar, envolvendo-te com carinho
e te protegendo até que pudesse
te me devolver, feliz e sorridente como se
tu fosse de fato seu achado, seu presente.

Mas que ousado e esperto, senão insolente!



(Robério Matos)


segunda-feira, 3 de março de 2014

DESAMOR
























DESAMOR



E deixamos tudo fazer.
De regar a terra.
Plantar uma semente.
Esperar ela florescer.

Deixamos até
de fazer amor.

Quando nada mais
havia a fazer
morremos do excesso
de nada ter.

Felizes pela inércia;
pelo desamor...



(Robério Matos)


O BALDE




O Balde



Sempre tive uma tremenda excitação pela vizinha do apartamento ao lado.
Vivia pensando num jeito prá traçá-la...
Um dia, conversando com o marido dela, ouvi dele:

- Preciso pintar meu apartamento, mas trabalho o dia inteiro e chego cansado. Tentei contratar um pintor, mas o cara pediu os "olhos da cara”...

 Aí tive a ideia:

 - Não seja por isso. Estou de férias e pintar paredes é o meu hobby.
 Posso fazer o serviço prá você, com prazer.
 O marido aceitou, feliz, a oferta.

 Bom papo que sou, mal comecei a pintar o apartamento e consegui levar a mulher pra cama... Só não esperava que o marido fosse esquecer os documentos em casa e voltar, justo nesse dia!

 A mulher, ouvindo o marido abrir a porta da sala, correu para o banheiro e o marido me encontrou peladão, no quarto, em cima da escada, dando umas pinceladas na parede...

 Aos berros, perguntou:

 - O que é isso, cara?! ... Começou pelo quarto, ... E nu?!
 - Ora, estou pintando de graça, começo por onde quiser.
 - Mas nu?
 - Queria que eu manchasse a minha roupa com tinta? ...
 - E de pinto duro?!...
 - E onde é que eu vou pendurar o balde?!


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O RITUAL





















O RITUAL


by Robério Matos




Era uma espécie de anfiteatro.
O piso viscoso,
de um tom escuro.
O sol, do teto penetrava
num quadrilátero
por entre barras de ferro fundido e duro.

As paredes estavam cheias
de musgos asquerosos.
Pessoas encapuzadas vestiam
túnicas brancas
e assentavam-se empertigadas
em cadeiras coloniais,
adornadas por símbolos
maquiavélicos, satânicos!
enquanto aguardavam o adentrar
dos líderes medievais.

Ao centro, uma maca negra,
vigiada por verdugos,
onde hibernava a hidra
mumificada e em refugos.
À direita da maca,
um esquife abominável,
no cerimonial que precedia o anunciar
do Grande Mestre,
que aguardava o instante memorável
que seria o beijar
a esquálida hidra inerte,
cuja lenda esse rito mágico
a ressuscitaria,
inda que caveirosa continuasse
durante a orgia.

Alguns diáconos preparavam
líquidos acres
e os repassavam
aos Mestres de Cerimônia.
O sabor era como o gosto azedo
do vinagre
e os fiéis, ávidos,
os bebiam por amônia.

A maca negra, estacionada,
estava entreaberta.
Um manto escuro
descerrava a cripta repugnante!

Do palco superior,
onde ficava um mirante,
descia uma harpia que, lânguida,
rasgava-se lhe o véu.
Nos seios nus cintilavam pérolas
de uma corrente
e nas mãos conduzia uma taça
com bebida igual ao fel
que me induzia a ingeri-la,
irritando o Grande Mestre que
fantasiava em meus braços
a sua amada hidra.

E quebrando as tradições do ritual,
da ante-sala saiu.
Enquanto se dirigia para mim,
numa fúria bestial,
notei que me debatia para acordar
e sair daquela enrascada,
deixando para si
o excêntrico amor da sua amada...

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

AL DI LA



















AL DI LA


Muito além das nossas “preciosas” coisas
às quais nos agarramos como
o náufrago à corda que se lhe jogam;
da preocupação com a nossa despensa
do próximo passo que devemos dar
para atravessarmos a calçada para
simplesmente irmos para o mesmo lugar.

Muito mais que a escolha da roupa
com a qual iremos àquele esperado jantar
e até mesmo de como estará – se estiver
o nosso par, que nos enche de jubilo
e com quem um dia pretendemos nos casar;
da ansiedade ante a espera do nosso consorte
que sequer sabemos se realmente virá,
está o dia de hoje que ainda não se findou.

Muito além do nosso cobiçado emprego
das vaidades e orgulho próprios do ser
do nosso apreensivo e protegido Status Quo
da hierarquia e política do nosso meio
está a família, os amigos e o nosso Deus.

Muito ainda mais além que tudo isso
deveria estar o polimento do nosso espírito
pois é com ele que iremos além da vida...



(Robério Matos)


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

OS SONS DO MEU SILÊNCIO



















OS SONS DO MEU SILÊNCIO


Somos uno. Gêmeos siameses
indissolúveis e unidos até além vida
no escuro da noite, na claridade do sol
sob as areias do deserto
ou sobre os picos das montanhas.

Nos cômodos do meu apartamento
na área de lazer do prédio onde moro
nos coletivos no horário de pico,
sobrecarregados de gente barulhenta
no terminal de embarque dos aeroportos
ou nas estações rodoviárias
nos campos de futebol, mesmo nos gols.

Sou silencioso como uma folha que cai
como uma pluma que esvoaça do travesseiro
tal o pedinte mudo e surdo,
que não sabe o que pede nem o que
se lhe dão, mesmo a tudo agradecendo,
em silêncio para os nossos ouvidos
porém no mais alto volume de suas preces.

Não tenho espelhos para não fita-los
e falar comigo, assim quebrando
o inquebrantável voto do meu silêncio...

Psiu! Silêncio, por favor.



(Robério Matos)



domingo, 23 de fevereiro de 2014

VOCÊ (1)





















VOCÊ (1)


No princípio só havia você e o meu amor.
Eu me dei a ti, então passou a existir só você.
(eu dentro de ti...).



(Robério Matos)


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A PAZ NÃO TE FARÁ SE ARREPENDER




















A PAZ NÃO TE FARÁ SE ARREPENDER



Eu disse muitas coisas, sei
ao longo de minha irrequieta
e às vezes irresponsável vida.

Incrível é que não me arrependo
de nenhuma delas,
por mais estapafúrdias que tenham sido.

E sabe por quê? Porque dissera
sem maldade e com a inocência dos anjos,
com a cor branca da paz,
não a vermelha da malquerença; da guerra.

Tenho dito: o pior inimigo não é aquele
que assim se declara publicamente,
mas o que, sutilmente, te faz pensar
ser teu melhor amigo...

Viva na paz. Ela te enobrece
e jamais te fará se arrepender...



(Robério Matos)