segunda-feira, 3 de março de 2014

O BALDE




O Balde



Sempre tive uma tremenda excitação pela vizinha do apartamento ao lado.
Vivia pensando num jeito prá traçá-la...
Um dia, conversando com o marido dela, ouvi dele:

- Preciso pintar meu apartamento, mas trabalho o dia inteiro e chego cansado. Tentei contratar um pintor, mas o cara pediu os "olhos da cara”...

 Aí tive a ideia:

 - Não seja por isso. Estou de férias e pintar paredes é o meu hobby.
 Posso fazer o serviço prá você, com prazer.
 O marido aceitou, feliz, a oferta.

 Bom papo que sou, mal comecei a pintar o apartamento e consegui levar a mulher pra cama... Só não esperava que o marido fosse esquecer os documentos em casa e voltar, justo nesse dia!

 A mulher, ouvindo o marido abrir a porta da sala, correu para o banheiro e o marido me encontrou peladão, no quarto, em cima da escada, dando umas pinceladas na parede...

 Aos berros, perguntou:

 - O que é isso, cara?! ... Começou pelo quarto, ... E nu?!
 - Ora, estou pintando de graça, começo por onde quiser.
 - Mas nu?
 - Queria que eu manchasse a minha roupa com tinta? ...
 - E de pinto duro?!...
 - E onde é que eu vou pendurar o balde?!


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O RITUAL





















O RITUAL


by Robério Matos




Era uma espécie de anfiteatro.
O piso viscoso,
de um tom escuro.
O sol, do teto penetrava
num quadrilátero
por entre barras de ferro fundido e duro.

As paredes estavam cheias
de musgos asquerosos.
Pessoas encapuzadas vestiam
túnicas brancas
e assentavam-se empertigadas
em cadeiras coloniais,
adornadas por símbolos
maquiavélicos, satânicos!
enquanto aguardavam o adentrar
dos líderes medievais.

Ao centro, uma maca negra,
vigiada por verdugos,
onde hibernava a hidra
mumificada e em refugos.
À direita da maca,
um esquife abominável,
no cerimonial que precedia o anunciar
do Grande Mestre,
que aguardava o instante memorável
que seria o beijar
a esquálida hidra inerte,
cuja lenda esse rito mágico
a ressuscitaria,
inda que caveirosa continuasse
durante a orgia.

Alguns diáconos preparavam
líquidos acres
e os repassavam
aos Mestres de Cerimônia.
O sabor era como o gosto azedo
do vinagre
e os fiéis, ávidos,
os bebiam por amônia.

A maca negra, estacionada,
estava entreaberta.
Um manto escuro
descerrava a cripta repugnante!

Do palco superior,
onde ficava um mirante,
descia uma harpia que, lânguida,
rasgava-se lhe o véu.
Nos seios nus cintilavam pérolas
de uma corrente
e nas mãos conduzia uma taça
com bebida igual ao fel
que me induzia a ingeri-la,
irritando o Grande Mestre que
fantasiava em meus braços
a sua amada hidra.

E quebrando as tradições do ritual,
da ante-sala saiu.
Enquanto se dirigia para mim,
numa fúria bestial,
notei que me debatia para acordar
e sair daquela enrascada,
deixando para si
o excêntrico amor da sua amada...

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

AL DI LA



















AL DI LA


Muito além das nossas “preciosas” coisas
às quais nos agarramos como
o náufrago à corda que se lhe jogam;
da preocupação com a nossa despensa
do próximo passo que devemos dar
para atravessarmos a calçada para
simplesmente irmos para o mesmo lugar.

Muito mais que a escolha da roupa
com a qual iremos àquele esperado jantar
e até mesmo de como estará – se estiver
o nosso par, que nos enche de jubilo
e com quem um dia pretendemos nos casar;
da ansiedade ante a espera do nosso consorte
que sequer sabemos se realmente virá,
está o dia de hoje que ainda não se findou.

Muito além do nosso cobiçado emprego
das vaidades e orgulho próprios do ser
do nosso apreensivo e protegido Status Quo
da hierarquia e política do nosso meio
está a família, os amigos e o nosso Deus.

Muito ainda mais além que tudo isso
deveria estar o polimento do nosso espírito
pois é com ele que iremos além da vida...



(Robério Matos)


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

OS SONS DO MEU SILÊNCIO



















OS SONS DO MEU SILÊNCIO


Somos uno. Gêmeos siameses
indissolúveis e unidos até além vida
no escuro da noite, na claridade do sol
sob as areias do deserto
ou sobre os picos das montanhas.

Nos cômodos do meu apartamento
na área de lazer do prédio onde moro
nos coletivos no horário de pico,
sobrecarregados de gente barulhenta
no terminal de embarque dos aeroportos
ou nas estações rodoviárias
nos campos de futebol, mesmo nos gols.

Sou silencioso como uma folha que cai
como uma pluma que esvoaça do travesseiro
tal o pedinte mudo e surdo,
que não sabe o que pede nem o que
se lhe dão, mesmo a tudo agradecendo,
em silêncio para os nossos ouvidos
porém no mais alto volume de suas preces.

Não tenho espelhos para não fita-los
e falar comigo, assim quebrando
o inquebrantável voto do meu silêncio...

Psiu! Silêncio, por favor.



(Robério Matos)



domingo, 23 de fevereiro de 2014

VOCÊ (1)





















VOCÊ (1)


No princípio só havia você e o meu amor.
Eu me dei a ti, então passou a existir só você.
(eu dentro de ti...).



(Robério Matos)


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A PAZ NÃO TE FARÁ SE ARREPENDER




















A PAZ NÃO TE FARÁ SE ARREPENDER



Eu disse muitas coisas, sei
ao longo de minha irrequieta
e às vezes irresponsável vida.

Incrível é que não me arrependo
de nenhuma delas,
por mais estapafúrdias que tenham sido.

E sabe por quê? Porque dissera
sem maldade e com a inocência dos anjos,
com a cor branca da paz,
não a vermelha da malquerença; da guerra.

Tenho dito: o pior inimigo não é aquele
que assim se declara publicamente,
mas o que, sutilmente, te faz pensar
ser teu melhor amigo...

Viva na paz. Ela te enobrece
e jamais te fará se arrepender...



(Robério Matos)