sábado, 31 de maio de 2014

ENTÃO SURGIU UM SUSSURRO






















ENTÃO SURGIU UM SUSSURRO



que lhe sussurrava sem cessar
e a cabeça barulhava
e sofria com aquela dor
que além de tudo falava e por gozo
lhe atormentava e o fazia gemer.

Que lhe ordenava coisas
que não compreendia, e só sabia
que era para cumprir e obedecer.

E surgiu outro sussurro
ordenando-lhe redigir, escrever
sobre qualquer coisa que gostasse
desde que não se vinculasse
ao sussurro anterior
e se não o faria sucumbir,
morrer de intensa dor.

E escreveu por todos os dias
de sua atormentada vida
sem parar, respirar, ao menos entender
porque isso lhe sucedia.

Até que por fim e para alivio seu
(ou meu), morreu e se inscreveu
na galeria dos escritores imortais,
mesmo de outras eras,
que partiram sem deixar escrito algum,
e por isso mandou que escrevesse
ou ao menos que falasse em seu lugar...




(Robério Matos)


EU SOU NORMAL!







(coisa de louco…)



  

… E por isso navego ao centro da direita do caminho da normose da sociedade; da obviedade, para por essa não ser rotulado de ± louco. Tenho essa patologia, pois
normose é a definição da pessoa que está sofrendo de ser normal.

Às vezes preciso trafegar nos trilhos que há sob (sob, mesmo. Não, sobre) os tetos dessas construções edificadas com a rigidez dos seres normais como eu.

Noutras, prefiro romper o hímen das sapienciais delimitações dos percursores contemporâneos que legislaram o novo e atual padrão comportamental e caminhar sobre (agora, sobre. Não sob) o meio-fio desses paradigmas, e assim infringi-los.

Não me desvio das normas atuais, pois se nos foram impostas seria para nos arremeter de volta ao passado das tradições culturais de nossos avós, onde corretos eram os passos de seus ascendentes e por sua vez descendentes da era salomônica. Quando muito, inclino-me para o centro da esquerda dessa normosidade, transgredindo-a.

Não posso, por conseguinte, optar por minhas próprias e espontâneas intuições sob pena de ser conceituado como alguém anormal e, como tal, ser excluído dessa mesma sociedade constituinte dos novos preceitos comportamentais.

Igualmente, não devo / tenho o direito de pensar e agir na contramão do fluxo das coisas normais e salutares ao nosso crescimento, seja no campo cultural ou mesmo social do novo rumo das coisas…

Sou assim, e pronto!
(e não dormi)

Boa noite!
Aliás, bom dia!
É que acordei há pouco (ora, quem já viu alguém que não dormiu, acordar?).




(Robério Matos)




CRIANÇA OUTRA VEZ





















CRIANÇA OUTRA VEZ



Ladrilhos de ouro e diamantes
pavimentavam sua estrada
e os raios de sol esbraseados
faziam refletir faíscas de luzes azuis
que não se podia fitar diretamente –
seus olhos poderiam cegar.

E para cada um dia que avançava,
três faziam-nos recuar no passado
rejuvenescendo-o incessantemente
até que um dia, surpreso e feliz,
tornara-se novamente um jovem
ágil, robusto, cheio de vida.

Se continuasse a seguir por aquela
estrada encantada cedo ou mais tarde
trombaria com uma bela criança
na qual se converteria mais uma vez...




(Robério Matos)


terça-feira, 20 de maio de 2014

A BELEZA






















A BELEZA




não está nas coisas
que os olhos veem
ou que o sentido
a direciona e indica.

Ela é algo mais nobre
sutil, quase divino e
está ancorada
nos preceitos incipientes.
No âmago do “self”.

Beleza, é valorizar o feio
que deu certo,
nunca o belo incerto...

É tudo que se vê
com os olhos d’alma.
Poucos a enxergam
ante a própria feiura.
(Sua. Não a dela)


(Robério Matos)


A GENTE SE ACOSTUMA






















A GENTE SE ACOSTUMA



A ganhar e depois perder
a deliciar-se com a beleza do dia
e ao anoitecer sentir nostalgia
supondo que novo dia não irá acontecer
que viver é assim mesmo
pouco sorrir e muito sofrer
às vezes ganhar e na maioria
ver tudo escorregar entre os dedos
sucumbir, sumir, ir-se e morrer.

Que tudo faz parte
que chega, conquista e depois parte
muitas vezes sem nada falar ou dizer
e tão distante tudo fica
menos a dor que continua a doer.

A gente se acostuma e até compactua
achando ser essa a nossa sina
que não poderia conosco ser diferente
pois nascemos para assim viver
um dia atrás do outro,
tantos que nos perdemos
e não mais sabemos que dia é hoje
ou se hoje não é hoje mas outro dia.

E não mais vivemos o que somos
apenas sonhamos outro viver
e de tanto sonhar nunca acordamos;
de tanto nos acostumar renunciamos
segurar a corda que nos oferece socorro
e assim nos afundamos no charco
que teima em engolir nossas entranhas
e as regurgitar perto de um abutre
faminto que agora tem o que comer.

A gente se acostuma e deixa de perceber
que amanhã é outro dia e
novo amor poderá surgir, acontecer.


(Robério Matos)


domingo, 18 de maio de 2014
























A ROSA A BRISA E O ESPINHO






Um dia, bela e exuberante
era regada com água da fonte
e muitas flores se curvavam
ante sua impar beleza.

Até o girassol mudou o foco
do sol para ela e passou
a crescer e girar em torno dela
(Hoje, murcha sem mesmo fitá-la).

Então a brisa um dia enxergou
que por trás dela havia um
traiçoeiro e pontiagudo espinho
e agora dá voltas para não
cruzar seu peçonhento jardim.



 (Robério Matos)






















A COPA DO MUNDO TALVEZ SEJA NOSSA




De milhões de brasileiros esperançosos
de torcedores fanáticos e autoconfiantes
de muita gente que sonha e carece sorrir.

De quantos contam os dias que faltam
maioria otimista e tomada de certezas
sem lugar para dúvidas e nada de surpresas.

A Copa do mundo talvez seja realmente nossa.
(UMA DÚVIDA).
Como nossa é a fome e os medos de milhões
que igualmente esperam mal acomodados
nas filas, nas macas e nos chãos dos hospitais
sem leitos, médicos, higiene, equipamentos...

Com transportes coletivos insuficientes
inadequados, não revisados e superlotados
trafegando em vias urbanas deterioradas
e em um trânsito tresloucados e sem orientação
onde os poucos guardas ficam espremidos
por trás dos postes de luz, não para orientar
mas para multar e só engordar a arrecadação.

Sem escolas ou com essas mal equipadas.
Com professores mal remunerados,
com a migalha dos salários atrasados e
igualmente mal qualificados e treinados
apenas para não revidar os insultos
e as humilhações de alunos privilegiados.

A Copa do mundo talvez seja realmente nossa.
Só não é nosso os milhões que já se foram,
hoje desviados para dentro das cuecas e meias
de alguns, ante o superfaturamento de suas obras
palacianas, enquanto moramos e morremos
em palafitas, favelas ou debaixo dos viadutos.
(UMA CERTEZA).




(Robério Matos)


quarta-feira, 14 de maio de 2014

















DE QUE COR É A EMOÇÃO



Qual o peso de um pingo d’água
Pode-se parti-lo ao meio?

Viajar por todas as galáxias
Fazendo breves paradas
Em uma estrela, aqui e acolá?

Depois dessa peripécia toda
Você acertaria o caminho de volta
À terra ou ao lugar d’onde partiu?


Você sabe onde tudo começou
Estava lá quando o ovo se partiu?

Então me diz qual a cor da emoção!
Da minha. A tua você deve saber
Se é que tem sentimentos...



(Robério Matos) 


















COISAS...


É só isso o que a vida é:
coisas que vêm, que vão

que não ficam
e até que ficam
as tristes, sombrias

as boas já se foram
pra bem longe
das que ficaram órfãs,
perdidas e
essas não podem seguir...



(Robério Matos)