quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

BELOS TEMPOS


















BELOS TEMPOS


Já esmaecidos, amarfanhados
amarelados, distantes...

Que se renovam
rebrilham e se recriam
com um simples regar das raízes
amorfas, secas, pedintes, clamantes
de um terno e complacente olhar.

Belos tempos, já não antigos
distantes da madrugada
próximos do anoitecer
de um querer tênue
porém repleto de esperança.

Tempos que jamais poderemos esquecer...

Belos tempos que hoje rejubilam
os novos dias que estão por vir.

Porque o tempo, embora efêmero,
impassível e impiedoso
é eterno como o são o nossos amanheceres.

Belos tempos. Novos dias.



(Robério Matos)


A ALIANÇA QUE LHE DEI



















A ALIANÇA QUE LHE DEI


No mais ingênuo porém jubiloso
momento de minha vida
com ela você pode fazer o que quiser
trocá-la por suas despesas no bar da esquina
pagar a conta de luz atrasada
a TV assinada
ou bancar uma “saída” com um namorado qualquer.

Encher a cara de cerveja antártica Sub Zero,
sua preferida
comprar os passe de ônibus
abastecer sua despensa vazia
tal o seu caráter e virtudes enegrecidas.

A aliança que lhe dei
foi o maior desperdício e prodigalidade
de minhas atitudes
foi um ato insano de alguém loucamente enamorado
que não sabia com quem se envolvia
se com um ser de Deus
ou uma serva do diabo!



(Robério Matos)


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

NADA AINDA COMEÇOU





















NADA AINDA COMEÇOU


Não diga que não vale a pena
nem fale que é melhor assim
que  o brilho dos teus olhos
se ofuscaram, e tua noite é escura
quando há tantas estrelas ao redor
quando a lua apenas acaba de vir
e o sol daqui a pouco mostrará a cara.

Não diga que tudo acabou quando
nada sequer ainda começou, o galo
ainda não cantou na madrugada,
você nem a cara pôs na sacada
e ainda não vi o brilho do teu olhar.

Não fale que ainda não amanheceu
se meus olhos só veem o corpo teu
sob o reflexo do candeeiro na tua camisola.

Fala, outrossim, da tua fantasia que
se revela ora quando o dia amanhece
só por me ver ao longe, inda que
me tenhas sob o conforto dos teus lençóis,
dos quais não te queres desvencilhar-se
até que toque os lábios teus.



(Robério Matos)


TRIBUTO A BELEZA




















TRIBUTO A BELEZA


Você, Claudete Piva, é uma
diva dos Jardins das hespérides.
Ninfa que ofusca todos os brilhares
e tens a mais intensa luz do cosmo.

És uma divindade sem sombra,
esta passa ao largo de ti,
ou simplesmente te traspassa,
bela cigana califa, noiva de Gengis Khan.

Se não fosses divina, serias
a mais imortal dos mortais;
a cobra que engoliu as serpentes do faraó.
Serias a lenda, o Mito da Fêmea Guerreira,
ou apenas e tão-somente uma bela cigana.


(Robério Matos)






segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O SANTO QUE CAIU DO ALTAR





















O SANTO QUE CAIU DO ALTAR
(uma história real)
LEIAM! É um pouco longa, pros nossos padrões, mas muito interessante!)


by Robério Matos


Nos anos sessenta, morávamos eu e o Chico, meu primo, em Juazeiro do Norte-CE, cidade-santuário, onde maioria absoluta dos cidadãos é de origem católica e devota do Padre Cícero Romão Batista. Na época, tínhamos entre 10 e 12 anos de idade, respectivamente.

Nossos pais eram de origem muito humilde, por isso, de quando em vez, íamos passar o dia na casa de nossos avós, os quais tinham uma condição financeira melhor que a nossa, pois vovô Astrogildo era o Coletor da Cidade (tipo um Tabelião do único cartório existente no município).

Então, quando a coisa não estava muito boa em nossas casas, íamos pegar o 0800 (almoço) na casa da vó Mãezinha, como a tratávamos carinhosamente, daí às vezes ficávamos para o jantar e também dormíamos lá.

Vovó era talvez a mais católica de todos os habitantes da cidade e devota fervorosa do “Padim Pádi Ciço”, além de outro punhado de santos, cujas réplicas, de barro, ela mantinha em uma espécie de santuário, feito de madeira e preso à parede da sala de jantar.

Certo dia eu e o Chico pegamos Mãezinha ajeitando um lugarzinho para um santo novo, no já muito apertado e congestionado altar.

- Vó, esse é novo? – perguntei.
- É sim, meu filho.
- E o que ele faz (de milagre, ironizei)?
- Robério, lá onde eu comprei, o Seu Damião me garantiu que esse é o santo dos apertados.
Ele dá dinheiro, meu filho!
Olhei pro Chico. Ele também me fitou meio que de lado, e ficamos entre um misto de animados e desconfiados, ante a perspectiva do novo santo poder quebrar nosso galho, para irmos ao campo de futebol, cinemas, etc.

- E, vó, como que ele faz isso? É assim “na lata” mesmo? Ele mete a mão no bolso e dá o dinheiro?
- Não, menino. A gente coloca de baixo dele uma nota de 1 cruzeiro novo, por exemplo, faz a reza, e, no dia seguinte, pela manhã, logo cedo, vai lá e encontra 2 cruzeiros novos, e assim sucessivamente.
- Ah, tá... Respondemos quase em uníssono, eu e o Chico.
- Então vó – voltei a perturbar – isso já não é milagre. Tá mais pra jogo-do-bicho, só com uma grande desvantagem, pois esse paga 15 vezes mais o valor da aposta, enquanto que o sovina do santo, só uma vez mais...

Foi aquele “puxão de orelha”, seguido de um sermão. Só que você tá esquecendo de um detalhe importante Robério, seu sabichão: o santo dá pouco mas é certo. É toma-lá-dá-cá, né?

- Vó, interveio o Chico, vamos deixar de conversa e por a “experiência” (apelou, o primo) em prática. Isso ele falou já por volta das 18h. Hora da Ave-Maria.

Então Mãezinha não se fez de rogada. Pegou uma nota de 1 cruzeiro novo, fez a reza e colocou a bufunfa de baixo do santo.

Alta madrugada, eu e o Chico, descemos de nossas redes e, pé-ante-pé, fomos lá no santuário e colocamos mais um cruzeiro novo de baixo do santo e voltamos para nossas redes de dormir.

Pela manhã, hora do café, lá vem Mãezinha, radiante e jocosamente mostrando para nós as duas notas de um cruzeiro novo, cada.

E assim se seguiu por alguns dias. Ela colocava 2, nós cobríamos com 4. Botava 5, nós dez!

Mas veio um dia que a ganância suplantou a fé da nossa devota vó Mãezinha: ela colocou 50 pratas de baixo do santo. Certamente “tomara emprestado” do marido, nosso vô.

E agora, Chico? D’onde que nós vamos arranjar 100 paus!
- Que nada, primo. Nós desta vez não vamos cobrir a parada. Vamos “passar”, como se diz nos jogos de azar.

Madrugada. Fomos lá, como de costume, no santuário e tiramos os 50 mangos do santo, e, ofegantes, voltamos para nossas redes, com um detalhe, que pois um bom termo em nossa fonte de renda: o nervoso, somado à pressa e ansiedade, fez com que derrubássemos o santo do altar, fazendo o danado – com todo o respeito - se estatelar no chão.

Dia seguinte, bem cedo, Mãezinha dana-se a sacudir nossas redes: Robério... Chico... Venham cá, depressa!
(e aqui resumimos o final da história).

- Como vocês me explicam isso? Além dos 50 cruzeiros novos haverem sumido “misteriosamente”, meu santim caiu do altar, e vejam aqui!

Quase não contivemos o riso ao vermos o busto do santo em uma das mãos da vó, e a cabeça do dito “cambista” na outra...

- Sei não, vó! Cuidei em tentar contornar (e só piorei mais ainda) aquela vexatória situação.
Vai ver que ele, duro, viu que não tinha como cobrir “uma aposta” tão alta e, envergonhado, saltou do Santuário, cometendo suicídio...


***

terça-feira, 10 de setembro de 2013

VAZIO


















VAZIO
(review)

 

É o meu momento

Ausente das emoções
De todos os sentimentos.

Das sensações de alívio,
Dor, convívio,
Solidão... Amor...

Distante do entardecer,
Da meia-noite.
No ombro da madrugada,
Perto do alvorecer.

Não há o cheiro da chuva
O ribombar dos trovões
O borbulhar da correnteza.

Silente é a natureza
O canto dos pardais
O chilrear dos rouxinóis.

Ouço apenas o áudio metálico,
Que nada diz
Que não constrói.

Ausente é o destemor
Da vida
O medo da morte.
Presente, só o Vazio...


(Robério Matos)


domingo, 8 de setembro de 2013

A Essência da Beleza
















A Essência  Da Beleza


Passeando pela internet me deparei com a frase:

“Não deixe que tirem o sorriso do teu rosto. Não dê esse direito a ninguém.

E cá entre nós, você fica linda com ele!”

  Não sei quem é o autor dessas palavras mas elas trazem consigo grande reflexão e trouxeram o eco de palavras que ouvi no passado de volta a meu cérebro.

Estávamos em um retiro, todos os anos naquela região esse era um evento esperado.

Estávamos no local chamado acampamento Batista de Piraputanga. O lugar era ao pé de um monte com enormes paredes de pedras.

 Lembro que nos aventuramos na escalada do monte mais alto, uma experiência inédita. Ainda lembro do sufoco. Era uma trilha difícil de subir e se tornou um desafio mas na volta minhas pernas tremiam, as forças foram minadas e pensei não vencer o desafio de voltar. A sensação de estar no alto foi indescritível mas nunca mais quis me aventurar. Nosso guia há algum tempo me disse que realmente Deus cuidou para que nunca nada acontecesse porque sem nenhum equipamento pessoas leigas poderiam correr grandes riscos.

Havia lindos alojamentos no local, uma piscina de água natural, a ferrovia passava por perto, e do outro lado da estrada de terra corria o caudaloso rio onde alguns se aventuravam na pescaria. O lugar era perfeito para ser feliz nem que fosse por alguns dias.

Eu estava ali esperando pela programação naquelas horas em que a gente pode conversar, rir ... A alguns anos antes eu era uma pessoa comunicativa e de muitos amigos, mas agora era um desafio conversar, sorrir, ou me alegrar.

Lembro exatamente da cena. Uma senhora idosa simpática, bem conhecida no Mato Grosso Sul e já viúva se aproximou e calmamente com todo carinho me dirigiu a palavra:  Minha filha você é muito Linda! Olha a sua beleza... mas falta uma coisa. Ouça bem falta uma coisa em você. Eu ouvia curiosa. Ela continuou... falta em você um sorriso... você é uma pessoa muito triste. Em sua beleza falta um sorriso. Minha filha nunca se esqueça de sorrir falta um sorriso em você.

Já se passaram muitos anos, pela sua idade penso que aquela senhora nem vive mais. Mas as suas palavras, ah essas nunca morreram.

O sorriso havia a muito sido roubado, ele estava sepultado. As fotos que ainda guardo revelam terminantemente a falta dele. Por mais que eu me esforçasse ele não podia voltar, parecia mesmo ter morrido para sempre.

Talvez esse se tornou o maior sonho da minha vida.  Ressuscitar meu sorriso.

Há dois anos conheci alguém que descobriu que o sorriso estava apenas adormecido e com esforço e presteza ele poderia ser ressuscitado. Então ele começou a descrever minha personalidade antes do meu sorriso morrer. Ele me conheceu pessoalmente logo após a morte dele, já nos conhecíamos por vinte anos, as agora hospedado em minha casa com um olhar quase de raio X descobriu como aquela senhora a falta de alegria e se propôs a todo preço e a todo esforço trazer de volta aquele que era totalmente responsável por minha beleza. Como bom europeu teimoso, ele conseguiu, não exatamente nos dias que ele se propôs mas conseguiu.

Fazem dois dias conversando com esse semeador de sonhos e sorrisos que agora chamo de amigo ele me disse:

Sempre há uma faísca que faz descobrir a energia que existe em nós. Para mim foi meu pai. Para cada um tem alguém que dá aquela ajudazinha inicial, que faz com que nós de repente deslanchamos. Mas o importante é saber aproveitar desta oportunidade para ir para a frente. E essa energia é a sua, e você está provando que tem todo potencial!

Fui privilegiada porque Deus mandou um jardineiro que cultivou o solo, as sementes, irrigou a terra com seu e mails só pra ver brotar a beleza que a muito havia morrido.

Já se passaram muitos anos desde as palavras daquela senhora. O tempo transformou meu corpo. Engordei, as manchas de vitiligo marcaram minha pele com manchas enormes, o cabelo diminuiu e começou embranquecer com os anos. Ah então você pode dizer meus pêsames sua beleza morreu. Qual o que, faz pouco tempo que minha beleza ressuscitou.

Ontem alguém me disse duas vezes... cabelo lindo, olhos lindos... Quase todos os dias ouço alguém dizer: Como você está linda, eu queria ter a cor dos seus olhos, que linda a cor dos seus cabelos, eu queria ser alta como você, nossa como esses cintos que você usa são lindos.

Ao contrário de outrora amo esses elogios, mesmo sem aquele corpo lindo que a senhorinha viu um dia, agora perdi a beleza que eu tinha naquele tempo mas conquistei o que faltava... o sorriso não dos lábios mas da alma aquele que irradia para fora e contagia o corpo.

As fotos mostram agora uma pessoa gorda manchada mas deveras linda. Porque irradia o essencial para que se veja a verdadeira beleza.

Eis o segredo de toda magia. Nunca deixem que roubem seu sorriso, não dê esse direito a ninguém, cá entre nós como fico linda com ele.

Podemos escolher ser roubadores de sorriso ou jardineiros dele. A verdadeira beleza, alegria, felicidade não está exatamente no que possuímos materialmente falando, mas naquilo que é a essência da vida que nasce com apenas uma faísca como diz meu grande amigo mas se torna uma centelha e aos poucos irradia a luz por onde passamos contagiando aqueles com que convivemos deixando grandes marcas não importa o tempo que passamos...

Linda! ... amo essa palavra porque ela é a essência da verdadeira beleza, aquela que brota da alma e ilumina nossa existência e o mundo.

Então essa é uma história para rir... porque o choro ah! Esse aos poucos vai sendo sepultado, dele só precisamos a água das lagrimas para irrigar o caminho cheio de flores e cores que agora nos propomos andar.


Postado por Erica Gerli às 09:47 


terça-feira, 3 de setembro de 2013

QUERO TE DAR MEU AMOR




















QUERO TE DAR MEU AMOR




Ainda que pouco, será todo teu.

Nada sobrará para mais ninguém,
nem mesmo para mim restará,
nenhuma uma só partícula sequer.

Será todo teu até o dia que aceitares.
Quando não mais o quiser,
por favor, devolva-o para mim
e o darei a quem dele precisar.



(Robério Matos)


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

SETE MINUTOS




















SETE MINUTOS



Sete minutos transcorrem
sutilmente. Ingênuos...

Dois corpos nus
a perscrutarem-se em devaneios,
à toa, tácteis.
Insanos, ávidos,
murmuram-se se buscam e
tocam-se.

Dedos em luvas macias,
aveludadas.
Vestes talares despidas,
órfãs, ao lado.

Suspiros, súplicas, seduções...
Fundo musical erótico
dita os passos,
tal ritos de tangos
sensuais, afrodisíacos.

Cinco minutos...
Arrepios,
lábios trêmulos, em êxtase...
Olhos nos olhos
sôfregos, cúmplices...
Respirações ofegantes,
entrecortadas
afônicas, secas, descompassadas.

Corações palpitantes,
em frenesi, acelerados.
Peito no peito,
ombro nos ombro,
boca na boca.
Unos.

Último instante.
Entregam-se e se fundem.
Completam-se e...
Eclodem!
E atingem o ápice do prazer.



(Robério Matos)


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

TERAPIA DO AMOR




















TERAPIA DO AMOR



Deixa-me tocar tua pele,
vê-la enrubescer.

Encostar no teu corpo,
sentir teu cheiro
e adormecer.

Beijar teus redemoinhos.
Acariciar teus relevos,
apalpar os pelos teus
e desejar-te com todo ardor.

Deixa-me suspirar-te,
amar-te e em ti morrer.

Uma morte de paixão,
de morrer sem sentir dor.

Deixa eu te amar, amor.



 
(Robério Matos)