domingo, 30 de junho de 2013

UMA MÁQUINA QUE NÃO FALAVA










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UMA MÁQUINA QUE NÃO FALAVA




Uma noite desenhei uma máquina.
Dessas, que como todas as outras,
não sabem dizer, nem ao menos falar.

Fi-la por capricho meu, sem intuito,
sem querer que dissesse ou falasse.

Uma máquina, apenas.

Que nada sabia dizer ou falar.

Um dia, no entanto, ela “disse”:

você sabe que sou uma máquina
e, como tal, não sei dizer nem falar.

E nunca mais disse uma palavra...




(Robério Matos)


sexta-feira, 28 de junho de 2013

DEUSES e HUMANOS













DEUSES e HUMANOS


Os deuses não riem.
Não choram.

Humanos é que fazem isso:
chorar ou rir.

Só fazem isso.

Infelizmente sou humano
e não rio...




(Robério Matos)


quarta-feira, 26 de junho de 2013

MEIO QUE BANDIDO

















MEIO QUE BANDIDO




Sou meio que bandido.

Mais maldito que amigo.

Não dou certo com as pessoas.

Vivo só. Eu e a minha dor.

De dia, vivo a noite que acontecerá.

De noite, o dia que não sei se virá.

Sabe? Nem o dia.

Só este momento,
quando não sei se é noite
ou mesmo dia.

Somente este momento...

É que sou meio que bandido.




(Robério Matos)


terça-feira, 25 de junho de 2013

VEM COMIGO






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VEM COMIGO


E alguém diz: salta!
Ele responde:
apenas se for para
mais alto do que eu,
porque abaixo estás tu
que não queres que eu cresça,
que suba mais alto que você.

Vem comigo!


(Robério Matos)


MINHA ALMA









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MINHA ALMA


Tenta sair do cárcere
onde a aprisionei.

Esperneia, grita e se apavora.

Pede clemência. Pede perdão.

Promete ser diferente
(se a libertar).

Não creio nisso.
Afinal, a conheço de longas eras.

Ela jamais irá mudar...


(Robério Matos)


segunda-feira, 24 de junho de 2013

FOI
























FOI



Foi fugaz
Foi furor
Foi intenso.

Não foi eterno
Não foi marcado
Não foi divino.

Foi...

Ou não foi...




(Robério Matos)


domingo, 23 de junho de 2013

VESTE-ME DE CETIM



















VESTE-ME DE CETIM


Quando você voltar aqui
traz-me outra roupa.

Veste-me de cetim,
ou de qualquer outra coisa,
desde que se ajuste em mim.

Vai e volta logo.
Não sei quanto tempo
ainda ficarei aqui.



(Robério Matos)


sábado, 22 de junho de 2013

MUITO MENOS SONHAR
















MUITO MENOS SONHAR



Não mais sonhar.

Aliás, nem mesmo dormir.

Dormindo, corre-se
o risco de amar ao acordar.

Melhor sequer dormir,
muito menos sonhar.




(Robério Matos)


sexta-feira, 21 de junho de 2013

FORA DO AR







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FORA DO AR




Fora do ar

Da estação

Do dizer

Querer, sonhar.

Longe de si.

De partir

Ou de chegar.

De amar.

Simplesmente

De tudo que há.

Fechado e

Fora do ar.




(Robério Matos)


quinta-feira, 20 de junho de 2013

MARÉS

















MARÉS



Boa noite.

Vou dormir sobre os morros.

Em cima das dunas.

Acima das marés.

Afogado, abaixo de ti.

Às vezes sobre.

Noutras, debaixo de você.

Acima ou abaixo, não interessa.

O que importa é dormir com você.




(Robério Matos)


LUSCO-FUSCO



















LUSCO-FUSCO



Claras, são as entranhas
Do lusco-fusco da aurora,
Da morte-vida que ao derredor
Se aninha; na rinha; na luta
Pela vida inglória

Que, sem temor nem glória,
Esperneia, grita e se arvora
Tal o ovo na frigideira,
Que, outrora flácido,
Se enrijece com a fervura;
Luta, briga, porém
Sua vida não dura mais
Que lhe permita a quentura
Da tenra banha que o envolve.

Escuras, são as noites
Que emolduram a vida perversa;
Que obscurecem o amanhecer;
Que enlutam os nubentes
Desde o trocar dos anéis
Até os nimbos do entardecer.

Tal o papel-de-parede
Sem cor, definha-se o nadir e
Mostra a cara o hoje, obscuro;
Não tão velho quanto o ontem,
Nem tão moço qual o amanhã.
Efêmero, apenas.




(Robério Matos)


quarta-feira, 19 de junho de 2013

DIGA, EU TE AMO


















DIGA, EU TE AMO


Ela não sabe,
não consegue,
dizer eu te amo.

No entanto,
esse sentimento
vê-se no seu semblante,
nas atitudes e gentilezas.

Permita-se!
Você precisa disso.
Dizê-lo te libertará.

Serás mais bela,
radiante e feliz
e a vida em ti
se harmonizará.

Diga!


(Robério Matos)


domingo, 16 de junho de 2013

DEIXA-ME


















DEIXA-ME


Deixa-me sufocar-me
com todos os ares
que inflamam meu peito.

Com os axiomas que me permiti,
que me deixei suceder.

Deixa-me ser assim, como eu,
do jeito que sou,
seja junto contigo,
ou somente comigo.

Mas, deixa-me.
Não mais preciso dos teus favores.
Nem mesmo de ti eu preciso,
sequer dos teus amores.

Deixa-me ficar assim...


(Robério Matos)


quinta-feira, 13 de junho de 2013

DEIXA EU TE AMAR


















DEIXA EU TE AMAR


Deixa eu te seguir.
Trilhar tuas ruas;
beijar tuas nádegas,
nuas.

Deixa eu te dedilhar.

Pensar que você é minha,
nem que saiba que és
de todo o mundo.

Que tens uma parte
que não me pertence.

Deixa, mesmo assim,
eu sentir você;
de achar que me pertence,
que tudo o mais
não passa de imagens,
que acham que apenas
busco-te por ser
somente teu.

Deixa eu te sentir
da forma que te vejo
e que sinto você.

E me terás também,
Deixa...



(Robério Matos)


quarta-feira, 12 de junho de 2013

LIBÉLULA


















LIBÉLULA



Ela não nasce entre espinhos,
tem charme e não é flor.

Floresce e cresce pelos caminhos;
pelos charcos do desamor.

Desbrava a mata virgem,
sofre sem reclamar dor.

É destemida, leve e esvoaçante
tal um beija-flor.

Seu nome não é madressilva;
seu hálito beira mais puro odor.

Sua vida é curta, efêmera
mas intensa quinem todo ardor.

Amo essa criatura indefesa
que não é caça nem caçador.

Apenas uma libélula
que busca uma vida de amor.



(Robério Matos)


COISA SEM GRAÇA






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COISA SEM GRAÇA


A coisa sem graça nenhuma
é vê na beleza a desgraça.

Olhar para um céu claro
e vê nimbos sombrios.

Está só não tem graça alguma.

É rir do sofrer, é padecer
por sentir dois em um.

A coisa sem graça alguma
é achar que há muito sorrir,
quando o choro inunda a alma.

É pensar que só há um porvir,
quando nada mais há além do nada...

A coisa graciosa é sorrir.

De tudo.

Do nada...


(Robério Matos)


terça-feira, 11 de junho de 2013

CONSTRUINDO O DIA


















CONSTRUINDO O DIA


Fiz uma manhã para mim.

Construí uma tarde para você
e uma noite só para nós dois.

Na madrugada,
cansado e quase dormindo,
despertei e a fiz também,
apenas para cutucar,
mexer e acordar você.

Nessa, no entanto, não me vi...



(Robério Matos)


DESAMOR








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DESAMOR


E deixamos tudo fazer.
De regar a terra.
Plantar uma semente.
Esperar ela florescer.

Deixamos até
de fazer amor.

Quando nada mais
havia a fazer
morremos de falta de tudo.

Felizes pela inércia;
pelo desamor...



(Robério Matos)


AS VISÕES DE MINHA VARANDA



















AS VISÕES DE MINHA VARANDA


Da varanda do meu apartamento,
no oitavo andar do edifício,
vejo o horizonte perto de mim.
A pouco mais de três mil metros.

Nada mudou, desde quando essa vista
fitei há poucos meses,
exceto que naquela época havia coisa a ver.

As dunas ao longe, o notar a brisa do leste;
as aspirações, os desejos, os sentires
de tudo que podia tentar, aspirar um dia.

Ora estou nessa mesma varanda,
mas nada mais vejo, além da saudade
do que fui e vivi um dia, aqui, neste mesmo local...



(Robério Matos)


domingo, 9 de junho de 2013

FOI ASSIM



















FOI ASSIM...



Não havia um caminho.
Um Ponto Cardeal, sequer.

De dia, não navegava sob
a orientação da própria sombra
ou pelo roçar dos ventos
na pele, ou ainda pelos eflúvios
dos seus encantadores aromas.

De noite, mesmo o brilho das estrelas
ou os esplendores da lua não indicavam
um rumo confiável a seguir.

Talvez por isso, pisou sobre brotos
que um dia seriam flores viçosas e
rosas exuberantes que exalariam
os mais embriagáveis perfumes.

Um dia... O mais desditoso de todos,
sem querer, maltratou e esmagou
o mais belo de todos os girassóis.

Foi quando o sol se pôs;
a lua se esmaeceu e as estrelas
foram ofuscadas pela mais escura
de todas as noites.

Aquele dia... Aquele dia...
Nunca aconteceu...




(Robério Matos)


sexta-feira, 7 de junho de 2013

O RIO



















O RIO


Há um rio que nasce bem aqui ao lado
(na minha imaginação).

Gota após gota, pacientemente.

É como o cair de lágrimas solitárias.
Sobre as faces já molhadas.

Ele não imagina o quanto se tornaria caudaloso,
abundante e que tudo inundaria.
Se esse não fosse seu último pingo d’água...

É apenas mais um nascituro abortado.

Que não vai florescer.

Secou antes mesmo de nascer...

Chore, meu rio.

Quiçá você possa tudo novamente afogar...




(Robério Matos)





terça-feira, 4 de junho de 2013

INCONSISTÊNCIAS


















INCONSISTÊNCIAS



Naquela época
não havia amor para doar
nem para sorrir.

(suficientes...)

Apenas um amar
que queria sobreviver.

A todo custo.
Sobre os desafios infinitos.

(ou mesmo impossíveis...).

Um desejo de amar
o amor que desabrochava.

Um querer todo o bem
que se vislumbrava
ante o teu sorrir.

Naquele dia vi
essa possibilidade em ti.

Tu também a viste em mim.

Foi isso...

Um encontro
marcado por desencontros depois...

Só isso...




(Robério Matos)


APELO






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APELO


Não fale sobre o que não sabe.
Não diga o que apenas sua mente sente.
Fique na sua...

Cale-se! Deixe os outros falarem
o que sua mente pensa e não sabe dizer.



(Robério Matos)


AS PUTAS SOBRE MIM



















AS PUTAS SOBRE MIM



Não gosto de prostitutas.
Elas me causam
náuseas profundas.

Prefiro carícias,
carne limpa.

Quero fazer amor
gostoso, sadio.
Com alguém
como eu,
puro, carente.

Mas, se não existir
alguém assim,
que venham todas
as putas sobre mim.


(Robério Matos)