terça-feira, 27 de março de 2012

UM DIA...




imagem Google















by Robério Matos


Um dia, não faz tempo,
eu era feliz.
Sim, não faz tempo
que eu sorria
até com a minha tristeza.
Amava até minha própria dor;
abraçava minha sombra
acariciava meu sofrer
andava sem minhas pernas
tocava sem minhas mãos
beijava até lábios inexistentes
e saciava minha fome
apenas fitando pratos vazios...

Um dia deixei-me conduzir
pela correnteza de rios caudalosos,
sem bússola, velas ou remos.
Voei sem asas
saltei sem paraquedas
escalei montanhas sem cordas
cavei abrigos com as mãos
e subi em escadas sem degraus.

Um dia, não faz tempo,
acreditei no amor;
na misericórdia divina;
que nunca faltaria o azeite
do candeeiro que alumiava meu
sombrio e tenebroso caminhar;
pisei descalço sobre
pedras afiadas e espinhos pontiagudos
e não senti dor;
dormir sem ter onde repousar
minha cabeça e, mesmo com frio,
senti-me aquecido pelo calor
da esperança, de novo alvorecer.

Sim, não faz tempo
pensei ser possível até o ódio amar;
conviver em harmonia com inimigos
deitar-me ao lado de feras famintas;
saltar sobre as estrelas;
cantarolar e dançar ao som do silêncio;
dividir com outros famintos e sedentos
o pão e o vinho que ainda iria mendigar;
mitigar minhas feridas com o azeite
que só existia em meus nebulosos sonhos;
servir-me do lenitivo dos pesadelos
sonhar o sonho dos que não dormem.

Sonhei ser e fazer ser feliz
Sim, isso foi há pouco,
inda que faça tanto tempo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Muito obrigado! Seu gentil comentário nos estimula a seguir adiante.

Carpe diem!