domingo, 26 de junho de 2011

MELANCOLIA II





imagem Google


















by Robério Matos


Não desejo o pleno que há sob os céus,
sobre a crosta terrestre ou que habita

à sombra das vagas enfurecidas.


Não pretendo tudo que há no além abismal,

sob a chave dos tesouros ou na glória dos potentados.


Padeço, todavia, a paz do indivíduo simples,

do sertanejo sofrido, do trabalhador exaurido.


Admiro o pobre agradecido com pão e leite para os seus;

com ralos agasalhos e teto para as noites de fria brisa.


Invejo, até, a fé irrestrita do cristão que tudo tem,

pois confia na Providência e há Quem escute suas preces.


Encanta-me ver um sorriso, ouvir uma sonora gargalhada,

em contraste com uma sutil lágrima traiçoeira,

que não raro teima em umedecer lhe as faces.


Entristeço-me por forçar-me a “emitir” um sorriso acre;

por envergonhar-me ao “me ver” cantarolando uma melodia.


Surpreendo-me, com censura, quando “abro a guarda”

e, sem qualquer motivo, percebo-me em fugaz felicidade.


Desejaria então e sinceramente,

nunca ter sentido a necessidade compulsiva

de experienciar esses nefastos sentimentos.


Ansiaria, entretanto e ardorosamente

jamais ter conhecido e me tornado conivente dessa dor

que insiste em estar sempre por perto,

tal uma “dor-irmã” que não dói na carne,

que não maltrata tanto a matéria bruta;

mais a mente, devagar e silente, ela machuca.


Que nasce nas profundezas do meu ser

e me acompanha aonde quer que vá,

pouco lhe importando se esse é o meu querer.


E por não querer permitir-me transcender,

converte-me numa dízima periódica

que aos poucos se gasta e se cansa

de dividir-se, sonhar, tentar, de viver...


Atormenta-me sentir o seu odor,

Embora haja momentos em que o deseje

quase com um alienado ardente querer.


Tal o abutre, que se nutre de entranhas apodrecidas,

Assim e compulsivamente alimento-me dessa dor.


Pior do que ela, que me aperta com seus nós,

é calar por não poder compartilhá-la.

É não transmitir os apelos do ser maltratado

que, enfermo, se definha, abafando a sua voz.

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