MELANCOLIA II
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by Robério Matos
Não desejo o pleno que há sob os céus,
sobre a crosta terrestre ou que habita
à sombra das vagas enfurecidas.
Não pretendo tudo que há no além abismal,
sob a chave dos tesouros ou na glória dos potentados.
Padeço, todavia, a paz do indivíduo simples,
do sertanejo sofrido, do trabalhador exaurido.
Admiro o pobre agradecido com pão e leite para os seus;
com ralos agasalhos e teto para as noites de fria brisa.
Invejo, até, a fé irrestrita do cristão que tudo tem,
pois confia na Providência e há Quem escute suas preces.
Encanta-me ver um sorriso, ouvir uma sonora gargalhada,
em contraste com uma sutil lágrima traiçoeira,
que não raro teima em umedecer lhe as faces.
Entristeço-me por forçar-me a “emitir” um sorriso acre;
por envergonhar-me ao “me ver” cantarolando uma melodia.
Surpreendo-me, com censura, quando “abro a guarda”
e, sem qualquer motivo, percebo-me em fugaz felicidade.
Desejaria então e sinceramente,
nunca ter sentido a necessidade compulsiva
de experienciar esses nefastos sentimentos.
Ansiaria, entretanto e ardorosamente
jamais ter conhecido e me tornado conivente dessa dor
que insiste em estar sempre por perto,
tal uma “dor-irmã” que não dói na carne,
que não maltrata tanto a matéria bruta;
mais a mente, devagar e silente, ela machuca.
Que nasce nas profundezas do meu ser
e me acompanha aonde quer que vá,
pouco lhe importando se esse é o meu querer.
E por não querer permitir-me transcender,
converte-me numa dízima periódica
que aos poucos se gasta e se cansa
de dividir-se, sonhar, tentar, de viver...
Atormenta-me sentir o seu odor,
Embora haja momentos em que o deseje
quase com um alienado ardente querer.
Tal o abutre, que se nutre de entranhas apodrecidas,
Assim e compulsivamente alimento-me dessa dor.
Pior do que ela, que me aperta com seus nós,
é calar por não poder compartilhá-la.
É não transmitir os apelos do ser maltratado
que, enfermo, se definha, abafando a sua voz.
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