GARANHUNS
imagem REAL
by Robério Matos
 
A cidade acorda fria, enevoada. 
Jardins e praças vivos.
O aroma das flores
O balançar cadenciado das árvores 
E a neblina dos morros 
Cumprimentam os transeuntes. 
Os pássaros, preguiçosamente, 
Agasalham-se à sombra
Enquanto o solo tórrido 
Castiga as ervas-daninhas
Até que o sol ceda seu espaço 
Às nuvens cheias e à brisa 
E depois à chuva. 
Vem o crepúsculo, a noite
A lua em seu esplendor
Ladeada pelos satélites menores
Substituindo o rei-sol. 
Na periferia, 
Crianças brincam de roda, 
Ciranda; de contar histórias. 
Na intimidade dos lares
Os mais velhos recordam,
À meia-luz,
Os tempos idos da mocidade.
E vem a madrugada 
De um dia qualquer
Com sua quietude e beleza. 
Ela inspira os poetas
Restaura a debilidade dos fracos
E oferece trégua e paz
Aos mendigos.
É a vez e o tempo dos seresteiros
Dos namorados e amantes.
Garis e a guarda municipal 
Despontam nas calçadas 
Agora desertas.
De repente, uma estrela 
Desliza no horizonte – 
O brilho das águas sob a luz. 
A relva úmida, o orvalho
O cão companheiro e amigo: 
Indiferente e feliz.
A estrela ainda fiscaliza
Escuta e cobre cada gesto,
Cada pensamento.
Agora a água não tem 
Mais brilho: 
Está serena, quieta. 
A cinza queima depressa. 
O gelo se dilui, impaciente... 
O burburinho continua. 
Mais forte, às vezes mais fraco: 
Vai e vem... 
O amigo se foi; ainda não é dia.
Ouço latidos de cães
Que se sobrepõem ao silêncio.
A estrela, solitária, me espreita
Mas não se move. 
Um veículo rola sobre
O asfalto deserto.
O ronco do motor
Confunde-se com as vozes,
Com os murmúrios de sempre...
Uma borboleta pousa sobre
A água e se apavora.
Nada mais há...
Além daquela estrela,
Os ruídos (mais distantes)
Os fogos ao longe e o
Latido tênue dos cães.
 
 
 
          
      
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Muito obrigado! Seu gentil comentário nos estimula a seguir adiante.
Carpe diem!