O RITUAL
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by Robério Matos
 
 
Era uma espécie de anfiteatro.
O piso viscoso,  
de um tom escuro. 
O sol, do teto penetrava  
num quadrilátero 
por entre barras de ferro fundido e duro. 
As paredes estavam cheias   
de musgos asquerosos. 
Pessoas encapuzadas vestiam  
túnicas brancas  
e assentavam-se empertigadas  
em cadeiras coloniais,  
adornadas por símbolos  
maquiavélicos, satânicos! 
enquanto aguardavam o adentrar  
dos líderes medievais. 
Ao centro, uma maca negra,   
vigiada por verdugos,  
onde hibernava a hidra  
mumificada e em refugos. 
À direita da maca,  
um esquife abominável, 
no cerimonial que precedia o anunciar  
do Grande Mestre,  
que aguardava o instante memorável  
que seria o beijar  
a esquálida hidra inerte, 
cuja lenda esse rito mágico  
a ressuscitaria,  
inda que caveirosa continuasse  
durante a orgia. 
Alguns diáconos preparavam   
líquidos acres  
e os repassavam  
aos Mestres de Cerimônia. 
O sabor era como o gosto azedo  
do vinagre  
e os fiéis, ávidos,  
os bebiam por amônia. 
A maca negra, estacionada,   
estava entreaberta. 
Um manto escuro  
descerrava a cripta repugnante!  
Do palco superior,   
onde ficava um mirante, 
descia uma harpia que, lânguida,  
rasgava-se-lhe o véu. 
Nos seios nus cintilavam pérolas  
de uma corrente 
e nas mãos conduzia uma taça  
com bebida igual ao fel 
que me induzia a ingeri-la,  
irritando o Grande Mestre que 
fantasiava em meus braços  
a sua amada hidra. 
E quebrando as tradições do ritual,   
da anti-sala saiu. 
Enquanto se dirigia para mim,  
numa fúria bestial, 
notei que me debatia para acordar  
e sair daquela enrascada, 
deixando para si  
o excêntrico amor da sua amada... 
 
 
 
          
      
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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