quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

INSTANTES ATRÁS


















INSTANTES ATRÁS


Agora que se estar só
onde há muito
rezei a Ave-Maria
de pura calmaria
quando ora a nostalgia
maltrata, machuca
de fazer e causar dó.

O filho e amigo se foi
e tudo ficou pra depois
os bate-papos e piadas
as ruidosas gargalhadas
as histórias passadas
que dizíamos na calçada
no caminho da praia
no comércio agitado
nos burburinhos da rua
quando quase éramos
pelos carros atropelados.

Ríamos do passado cru
quando dele exigia muito
que deixasse a molecagem
que botasse o carro na garagem
enfim, que o mais breve
deixasse de ser mero angu
e se tornasse adulto, gente
que a vida era coisa séria,
que fosse como seu pai
e não dissesse um ai
por causa de simples espinho
encravado na sola dos pés.

Que dor não era aquilo
que muito ainda havia pra doer
quando começasse a crescer
e deixasse de ser um esquilo
pois não podíamos só viver
pulando de galho em galho
e que um dia iria conhecer
uma mulher como companheira
que poderia ser vivaz, alegre
ou muda como um canário
na fase de troca das penas
não um simples espantalho.


(Robério Matos)



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Muito obrigado! Seu gentil comentário nos estimula a seguir adiante.

Carpe diem!