quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A Hora da Estrela (Clarice Lispector)


FONTE: Wikipédia


É o penúltimo romance e último livro publicado em vida pela escritora brasileira Clarice Lispector.

O romance conta a história da datilógrafa alagoana Macabéa, que migra para o Rio de Janeiro, tendo sua rotina narrada por um escritor fictício chamado Rodrigo S.M. O livro possui duas temáticas: é uma obra sobre a vida de uma retirante na cidade grande, mas também uma reflexão sobre o papel do escritor na sociedade moderna. É talvez o seu romance mais famoso, sendo adaptado para o cinema por Suzana Amaral em 1985.


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Enredo
O romance narra as desventuras de Macabéa, uma moça sonhadora e ingênua, recém-chegada do Nordeste ao Rio de Janeiro, às voltas com valores e cultura diferentes. Macabéa leva uma vida simples e sem grandes emoções. Começa a namorar Olímpico de Jesus, que não vê nela chances de ascensão social de qualquer tipo. Assim sendo, abandona-a para ficar com Glória (colega de trabalho), cujo pai era açougueiro, o que sugeria ao ambicioso nordestino a possibilidade de melhora financeira. Sentindo dores constantes, Macabéa vai ao médico e descobre que tem tuberculose, mas não conta a ninguém. Glória percebe a tristeza da colega e a aconselha a buscar consolo numa cartomante. Madame Carlota prevê um futuro feliz, que viria de um estrangeiro que ela conheceria assim que ela saísse daquela casa, homem louro com quem casaria. De certa forma, é o que acontece: ao sair da casa da cartomante, Macabéa é atropelada por um homem que dirigia um luxuoso Mercedes-Benz e acaba morrendo. Esta é a sua "hora da estrela", momento de libertação para alguém que, afinal, "vivia numa cidade toda feita contra ela".


Análise

Além da história de Macabéa, encontramos no romance a história de Rodrigo S. M., o narrador, e a descrição do processo criativo (discurso metalingüístico). Rodrigo e Macabéa não fazem parte do mesmo espaço periférico, esta por sua condição de retirante e aquele por ser visto com maus olhos pela classe média e não conseguir alcançar pessoas como Macabéa.

Toda a expressão do texto é para se explicar. Rodrigo acaba priorizando o relato dos recursos textuais a falar de Macabéa, que ironicamente só ganha papel de destaque perto da hora de sua morte. É nesse ponto que compreendemos o significado do título: A hora da estrela é a hora da nossa morte, pois, nesse momento, o ser humano deixa de ser invisível às pessoas, que percebem que ele existe apenas quando já não existe mais.

Clarice adota discurso regionalista em A hora da estrela, algo incomum em suas obras. Através da personagem Macabéa, a autora descreve uma nordestina que tenta escapar da miséria e do subdesenvolvimento, abandonando Alagoas pela possibilidade de melhores condições de vida no Rio de Janeiro. Clarice foi muitas vezes criticada por se afastar da literatura regional emergente do modernismo.[1] Em A hora da estrela, ela foge do "hermetismo" característico de suas primeiras obras e alia sua linguagem à vertente regionalista da segunda geração do modernismo brasileiro. Na época da publicação, o crítico literário Eduardo Portella falou do surgimento de uma "nova Clarice", com uma narrativa extrovertida e "o coração selvagem comprometido com a situação do Nordeste brasileiro".[1]

A hora da estrela é uma obra-prima da literatura brasileira, principalmente, pelas reflexões de Rodrigo sobre o ato de escrever, sua própria vida e a anti-heroína Macabéa.


Contexto e publicação

Clarice comentou sobre A Hora da Estrela em sua única entrevista televisionada, concedida em fevereiro de 1977 ao reporter Júlio Lerner para a TV Cultura, de São Paulo. Na entrevista, ela menciona que acabara de completar um livro com "treze nomes, treze títulos", embora ela tenha se recusado a citá-los. Ela diz, que o livro é "a história de uma moça, tão pobre que só comia cachorro quente. Mas a história não é isso, é sobre uma inocência pisada, de uma miséria anônima." [2][3] Na mesma entrevista, Clarice diz que usou como referência para Macabéa a sua própria infância no nordeste brasileiro, além de uma visita a um aterro onde nordestinos se reuniam em São Cristóvão. Ela diz ter sido neste aterro que ela capturou "o ar meio perdido" do nordestino na cidade do Rio de Janeiro.[2]cartomante. Na época, ela imaginou como "seria engraçado" se na saída, ela fosse atropelada por um táxi depois de ouvir todas coisas boas que a cartomante previra.[2] Outra inspiração para a trama do livro foi uma visita que Clarice fez a uma

A novela foi escrita à mão em diversos fragmentos de papel, a partir dos quais Lispector, com a ajuda da sua secretária Olga Borelli, compôs a versão final do romance.[4] O livro foi publicado em 26 de outubro de 1977, pouco antes da autora ingressar no hospital do INPS da Lagoa, no Rio de Janeiro.[5]


Referências
  • a b Vieira, Nelson. "Jewish Voices in Brazilian Literature: A Prophetic Discourse of Alterity", Pág 111-112, University Press of Florida, 1995 ISBN 0-8130-1418-2, ISBN 978-0-8130-1418-0
  • a b c Lerner, Júlio. Entrevista com Clarice Lispector, televisionado originalmente na TV Cultura, filmado em fevereiro de 1977.
  • Esta entrevista está disponível na internet, no YouTube e em outras fontes. Dezembro de 2008
  • Cadernos de Literatura Brasileira : Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Salles, 2004.
  • Miguez, Cristina. "A morte de Clarice Lispector". Folha de São Paulo, Caderno Ilustrada. 10 de dezembro de 1977. (página da notícia visitada em 30 de dezembro de 2008)

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