quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Melancolia
(imagem GOOGLE)
by Robério Matos
Não desejo o pleno que há sob os céus,
sobre a crosta terrestre ou que habita
à sombra das vagas enfurecidas.
Não pretendo tudo que há no além abismal,
sob a chave dos tesouros ou na glória dos potentados.
Padeço, todavia, a paz do indivíduo simples,
do sertanejo sofrido, do trabalhador exaurido.
Admiro o pobre agradecido com pão e leite para os seus;
com ralos agasalhos e teto para as noites de fria brisa.
Invejo, até, a fé irrestrita do cristão que tudo tem,
pois confia na Providência e há Quem escute suas preces.
Encanta-me ver um sorriso, ouvir uma sonora gargalhada,
em contraste com uma sutil lágrima traiçoeira,
que não raro teima em umedecer-lhe as faces.
Entristeço-me por forçar-me a "emitir" um sorriso acre,
por envergonhar-me ao me "ver" cantarolando uma melodia.
Surpreendo-me, com censura, quando "abro a guarda"
"e sem qualquer motivo" percebo-me em fugaz felicidade.
Desejaria então e sinceramente, nunca ter sentido
a necessidade impulsiva de experienciar esses nefastos sentimentos.
Ansiaria, entretanto e ardorosamente jamais ter conhecido
e me tornado conivente com a compulsividade desse funesto pesar,
dessa dor que insiste em estar sempre por perto,
tal uma dor-irmã que não dói na carne,
que não maltrata tanto a matéria bruta;
mais a mente, devagar e silente, ela machuca.
Que nasce nas profundezas do meu ser
e me acompanha aonde quer que vá,
pouco lhe importando se esse é o meu querer.
Torna-me surdo, bloqueando a voz da razão.
Mudo, para não poder gritar o meu clamor
e o meu rosto ofusca para não refletir no espelho.
Compara-me ao covarde que implora de joelhos
para não falar do seu martírio lento e atroz.
E por não querer permitir-me transcender,
converte-me numa dízima periódica
que aos poucos se gasta e se cansa
de dividir-se, sonhar, tentar, de viver...
Atormenta-me sentir o seu odor, Embora haja momentos
em que o deseje Quase com um alienado ardente querer.
Tal o abutre, que se nutre de entranhas apodrecidas,
Assim e compulsivamente alimento-me dessa dor.
Noutro ato, dela escondo-me, como o faz o sol no crepúsculo
ou o moribundo entre os escombros das escaramuças.
Como tudo ao meu redor está em desalinho,
há pouca nitidez nas imagens dos meus sonhos
e parca luz na estrada do meu caminho.
Custa perdoar-me os erros e fracassos
cujos estilhaços atingem também a tantos quantos estão a minha volta.
Menos possível que desvendar o mistério
dos meus devaneios utópicos
é poder sentir o calor latente na alma esmaecida;
É mensurar a minha densa solidão, filha do desapego à própria vida
e cria da distância do "que" está no outro hemisfério...
Pior do que essa dor que me aperta com seus nós,
é calar por não poder compartilhá-la.
É não transmitir os apelos do ser maltratado
que, enfermo, se definha, abafando a sua voz.
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