quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O Ritual






(imagem GOOGLE)












by Robério Matos



Era uma espécie de anfiteatro.
O piso viscoso,
de um tom escuro.
O sol, do teto penetrava
num quadrilátero
por entre barras de ferro fundido e duro.

As paredes estavam cheias
de musgos asquerosos.
Pessoas encapuzadas vestiam
túnicas brancas
e assentavam-se empertigadas
em cadeiras coloniais,
adornadas por símbolos
maquiavélicos, satânicos!
enquanto aguardavam o adentrar
dos líderes medievais.

Ao centro, uma maca negra,
vigiada por verdugos,
onde hibernava a hidra
mumificada e em refugos.
À direita da maca,
um esquife abominável,
no cerimonial que precedia o anunciar
do Grande Mestre,
que aguardava o instante memorável
que seria o beijar
a esquálida hidra inerte,
cuja lenda esse rito mágico
a ressuscitaria,
inda que caveirosa continuasse
durante a orgia.

Alguns diáconos preparavam
líquidos acres
e os repassavam
aos Mestres de Cerimônia.
O sabor era como o gosto azedo
do vinagre
e os fiéis, ávidos,
os bebiam por amônia.

A maca negra, estacionada,
estava entreaberta.
Um manto escuro
descerrava a cripta repugnante!

Do palco superior,
onde ficava um mirante,
descia uma harpia que, lânguida,
rasgava-se-lhe o véu.
Nos seios nus cintilavam pérolas
de uma corrente
e nas mãos conduzia uma taça
com bebida igual ao fel
que me induzia a ingeri-la,
irritando o Grande Mestre que
fantasiava em meus braços
a sua amada hidra.

E quebrando as tradições do ritual,
da ante-sala saiu.
Enquanto se dirigia para mim,
numa fúria bestial,
notei que me debatia para acordar
e sair daquela enrascada,
deixando para si
o excêntrico amor da sua amada...

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