quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O fim.

 
        Ouço os sinais trazidos pelo vento frio e os gemidos entrecortados por soluços de lágrimas mornas. Alongam-se os sinais e os pensamentos perdidos. Sinais fugidios das mentes confusas  das pessoas aflitas.
        Lá fora, esses sinais se confundem aos silvos dos ventos. São sinais que se misturam aos murmúrios das ondas do mar e ao farfalhar da folhas varridas pela ventania incessante...
       Mais próximo, meu coração flácido reclama do fardo do corpo cada vez mais debilitado. Os seus músculos cansados se negam a acompanhar o ritmo que a vida lhe impõe. Suas batidas são quase imperceptíveis e a respiração ofegante pelo único esforço de se manter vivo.
       No rosto, o sorriso, antes cativante, timidamente se retrai na moldura da boca desdentada. Ele já não expressa alegria, mas reflete uma tristeza realçada pela melancolia de saudades constantes.
       O barulho exterior é abafado pelo cerume que se acumula e se solidifica no labirinto auditivo inibindo suas funções sensoriais. As informações que chegam ao cérebro são confusas e dispersas.
       As rugas sulcam profundamente a pele macerada enquanto as mãos e os pés estão encobertos por calos protuberantes. As articulações agora estão inflamadas pelo desgaste dos esforços repetitivos e, principalmente, pela ingestão de alimentos inadequados que contribuíram para o agravamento desse quadro.
       A solidão é o refúgio da alma. O descaso e a indiferença tolhem os últimos fios de esperança. Logo, o sono vai amadurecendo o corpo para a nova realidade que se avizinha. Realidade que a todos está resguardada indiferente de cor, religião e de bens acumulados..
       Os pensamentos fogem da realidade e se escondem no labirinto da mente senil. Vez em quando escapam e retornam assustados pelos tambores da guerra, pelos vírus da violência que grassa à sociedade.
       A humanidade se esqueceu dos valores morais, do respeito ao próximo e dos laços familiares. Agora marcha inexoravelmente para o abismo da destruição respaldado pela truculência. A insensatez sobrepõe à política e os conflitos são cada vez mais constantes. A destruição da espécie humana é iminente e o caos se avizinha.
       Enquanto isso, o medo se refugia dentro de mim e me abraça no leito de lençóis encardidos. Resignadamente deixo que as sombras me envolvam os derradeiros raios de luz.. Fica a impressão que procura desenhar o último sorriso e esconder uma gota de lágrima repleta de saudades. Vejo-me mergulhar no escuro de uma dimensão infinita. Insignificante, entrego-me, e deixo apenas de existir...
robertomatos (03/08/2010).

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