O Espelho
by Robério Matos
Seja antes de descortiná-lo;
De soprar o fino pó
De sua superfície deslustrada
Ou de refletir o semblante
Cansado e envelhecido
Entre suas lâminas caleidoscópicas,
Jamais prometera a mim
- ou a quem quer que seja -
Travestir-me de cordeiro
Para ofuscar-me o caráter.
Tampouco essa metamorfose
Fora reclamada pelos homens da terra
Ou pelos senhores dos céus.
A par e passo, não assumira
O encargo de, ao dar
As costas a esse espelho,
Trocar as minhas vestes
Rotas e encardidas
Por outras de cores brancas
Como a alvura dos lírios dos campos.
Assim, como a cigarra larga o seu casulo,
Retrocederei, pé ante pé e serenamente
De sua moldura,
E fitarei os olhos da sociedade
Com altivez e responsabilidade,
Porém desgarrado de compromissos
Que possam, de alguma forma,
Tolher-me a liberdade...
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